Quando vi a primeira prova das fotografias que tirei, fiquei um pouco assustada. Em grande parte, transmitem a mistura entre o velho e o novo, entre o abandonado e o destruído, como o balão de São João no dia a seguir à grande festa, que brilhou, voou e depois caiu sem vida nas ruas. Dos relatos que recolhi, sente-se uma nostalgia do que foi, uma certa tristeza com a mudança. Claro que esta mudança não é apenas nesta freguesia; é uma transformação transversal à cidade, e atrever-me-ia a dizer que se trata de uma mudança de paradigma a nível mundial, que até inspiraria todo um novo projeto na tentativa de perceber o que são, neste momento, as cidades. A facilidade com que se viaja, o consumo desenfreado, a globalização de uma "normalidade" transformam qualquer lugar.

Ao longo da pesquisa deste projeto, assistimos mais do que uma vez à destruição do espaço em que havíamos planeado fazer as filmagens e ao adiamento de entrevistas por causa do barulho das picaretas... Uma paisagem em rápida mudança… talvez demasiado rápida, num lugar que é querido e acarinhado por todos aqueles que o habitam ou nele trabalham.
A pergunta que me fica é se, eventualmente, quando toda esta azáfama de construção e destruição passar, quando fecharem as mercearias e outras, iguais ou diferentes, abrirem, qual será a paisagem nessa altura? Qual será o lugar confortável do Bonfim?